Sou uma amiga e correspondente muito dedicada. Na verdade, esse é provavelmente o meu verdadeiro talento. Sou o que você poderia chamar de uma artista por correspondência.
— Barbara Browning, a artista por correspondência  
Ah, entendo, então você está nos dando dinheiro para sermos amigas?
— Bakhyt Bubicanova, participante da bolsa artista por correspondência

No início de 2021, estávamos com a interessante tarefa de entender como distribuir financiamentos a projetos artísticos em um momento em que muitos dos artistas que conhecíamos tiveram projetos cancelados ou que não sabiam como continuar seu trabalho nesse novo limbo virtual que se estabeleceu na pandemia. A última coisa que queríamos era adicionar ainda mais pressão para os artistas continuarem produzindo sob tais condições. Queríamos distribuir financiamento, mas não queríamos que este suporte fosse atrelado a uma contrapartida específica. Também vimos uma oportunidade na transição para a comunicação digital para nos conectarmos com a rede artística global dos membros do coletivo da Revista Women & Performance. A noção de Barbara Browning de "The Correspondence Artist" (que aparece no romance com o mesmo título) nos levou a pensar na troca em si como um processo artístico: o trabalho íntimo, muitas vezes estranho e feminilizado de navegar na comunicação através da distância e da diferença. Concebemos o Artist Correspondence Grant como um programa no qual os artistas selecionados seriam “combinados” com um artista de um país diferente e convidados a se corresponderem tanto quanto quisessem, em qualquer forma ou meio, em uma experiência de baixo risco. Uma correspondência multilíngue, interdisciplinar e internacional.

Os pares de artistas são: Kaelo Molefe (África do Sul) e Bakhyt Bubicanova (Cazaquistão); Lia Garcia (México) e Abigail Campos Leal (Brasil); Jabu Newman (África do Sul) e Mariana Villegas (México); Davi Pontes (Brasil) e Aphiwe Livi (África do Sul). Após meses de correspondência, esses artistas compartilharam fragmentos efêmeros de suas trocas conosco: Lia e Abigail forjaram rotas de fuga (“rotas de fuga”) na troca de intimidade trans; Kaelo e Bakhyt improvisaram uma forma de troca gestual para se comunicar além das frustrações da linguagem escrita e da tradução; Mariana e Jabu mapearam as histórias sobrepostas de feminicídio e luta feminista em seus países de origem; e Davi e Aphiwe lutaram com o desafio da coreografia sem locação. Somos muito gratas a essas artistas por sua abertura ao longo deste programa e pelas belas imagens, palavras e vídeos que dividiram conosco, nos permitindo um vislumbre de suas trocas caleidoscópicas.

 Obrigada ao coletivo Women & Performance por sua visão e trabalho no ajuste fino e na execução deste programa e à Barbara Browning e à Troizel Carr, nossa editora chefe, por seu apoio nos desafios da coordenação internacional. Em especial, este projeto não seria possível sem os membros do coletivo Luisa Marinho, Anel Rakhimzhanova, Cynthia Citlallin Delgado, Camilla Arroyo e Lua Girino, que foram essenciais para sua concepção e incansavelmente generosas na tradução de nossos intercâmbios multilíngues.

 

- Joanna e Kristen

Coordenadoras dos Programas Públicos

Agosto de 2021